O Barbeiro com uma Missão (Mas que Não Tinha Tatuagens)

Em uma manhã qualquer, no trajeto até o trabalho, refletia sobre a Palavra de Deus e como ela se aplica na vida de cada um. É interessante como o Espírito nos lembra de histórias simples que nos marcam. Foi nesse momento que me veio à mente a lembrança de um barbeiro que eu costumava frequentar.

Era um homem simples, com seus 30 anos. Alguns diziam que ele cortava cabelo "mal", porque seguia um estilo mais tradicional. Enquanto a moda ditava cortes com riscos, listras e desenhos demorados, ele era direto, básico — daqueles barbeiros de antigamente. Mas algo nele me chamava atenção: sua sinceridade, sua fé e sua missão.

"Viver com Deus nem sempre é fácil, mas a gente precisa ser forte"

Foi em uma dessas conversas rotineiras na cadeira do salão que ele me contou um pouco da sua vida:

“Viver com Deus nem sempre é fácil, mas a gente precisa ser forte”, disse, com firmeza e paz no olhar.

Sua esposa havia sido diagnosticada com lúpus, uma doença autoimune que faz o sistema imunológico atacar o próprio corpo. O lúpus causa inflamações, dores, fadiga intensa e pode afetar diversos órgãos — como rins, coração e pele — além de provocar mudanças físicas visíveis, tem como símbolo a borboleta no rosto.

Ele tinha três filhos pequenos. Não tinha carro. Dependia de auxílio social e auxílio-doença. Cada ida ao hospital era uma escolha: gastar com um carro de aplicativo (Uber ou 99) ou economizar para o essencial. Moravam longe de tudo, mas ele permanecia firme. Sua missão era clara: cuidar da esposa e da família.

Conheci sua esposa uma vez. Era jovem e bonita, mas a doença a havia deixado abatida, irreconhecível. Ainda assim, estava ali, sentada no quintal, com a Bíblia no colo, meditando. Ela havia se apegado à fé.

A parábola do rico e Lázaro – Lucas 16:19-31

Essa história me lembrou da parábola do rico e Lázaro, contada por Jesus em Lucas 16:19-31. A Bíblia diz que o homem rico se vestia de forma esplêndida e vivia com grande luxo, enquanto Lázaro, um homem pobre e doente, ficava à sua porta. Ele tinha o corpo coberto de feridas e até os cães vinham lamber suas chagas — um gesto que, na natureza, tem função cicatrizante, já que a saliva dos cães possui propriedades antimicrobianas.

“Morreu o mendigo e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. No Hades, em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio.”
(Lucas 16:22-23)

Lázaro teve uma vida de sofrimento e abandono, mas morreu em paz com Deus. Já o rico, que ignorou o necessitado à sua porta, foi atormentado. Ambos morreram no mesmo dia, mas seus destinos eternos foram completamente diferentes.

O que aprendi com essa história

Essa lembrança me ensinou algo profundo: missões espirituais não têm aparência glamourosa. Muitas vezes, vêm escondidas na rotina, no sacrifício silencioso e no amor constante.

Se o seu casamento está em crise, converse com seu cônjuge. Não caia na armadilha de achar que a grama do vizinho é mais verde. Esse era o pensamento do homem rico — ele esbanjava tudo do melhor, mas ignorava quem precisava de cuidado logo ali, diante dos seus olhos.

Corra atrás dos seus sonhos, sim. Mas cuide também de quem você ama. Abrace a missão que Deus colocou na sua vida, por mais difícil que pareça. É nela que Ele prova seu caráter, molda sua fé e te prepara para algo maior.

"Bem-aventurado o homem que suporta com perseverança a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam."
(Tiago 1:12)

Conclusão

O barbeiro da minha memória talvez nunca tenha sido o melhor nos cortes da moda. Mas ele entendeu sua missão. E sem tatuagens, sem carros, sem luxo, ele continua sendo um exemplo de fé, resistência e amor incondicional.